Era uma casa muito engraçada...

Flatmate. Roommate. Qual a diferença? Um room mate é alguém com quem se divide um quarto. Já flat mate é alguém que mora no mesmo apartamento ou casa. Há 11 anos que saí do Brasil e poucas foram as vezes em que morei sozinho. Geralmente tive que dividir o quarto (coisa bem complicada) ou dividir um aluguel de um apartamento (complicado mas pelo menos com maior privacidade). Foram muitos os loucos que passaram pela minha vida e hoje resolvi contar um pouco sobre eles e elas.

Em Agosto de 1994 fui morar num vilarejo da Suíça para estudar hotelaria. Nestes primeiros 6 meses na escola dividi o quarto com um holandês chamado Rogier The. Quando ele entrou no quarto eu nao acreditei que ele fosse holandês pois ele era chinês. Foi entao que ele me contou que a família dele vinha da Indonésia e haviam emigrado para Amsterdam na época em que a Holanda tinha colônias por lá! Nos dávamos bem mas ele perdia muito cabelo pelo chao do quarto e escutava músicas melosas e românticas meio alto. Eu devia ser um chato que ficava lendo com a luz da cabeçeira acesa ou que dormia cedo e acordava ainda mais cedo!

O primeiro semestre de 1995 eu passei em Londres trabalhando num hotel gigante no aeroporto de Heathrow (apelidado carinhosamente de ‘a coisa marrom’). Tinha um quarto só meu, na ala dos empregados. Era um quarto deprimente, frio e velho mas foi bem aproveitado pois vários amigos passaram de visita e ficaram hospedados ilegalmente no quarto (eu nao podia receber visitas). Eu usava a janela de geladeira e minhas malas de armário. Foi uma fase em que eu usei 4 camisas para trabalhar e nunca as lavei. Um porco!!!

No segundo semestre de 1995 eu voltei para a vila suíça com o Rogier. E mal podia esperar para saber quem seriam meus próximos roommates!!!

Foi chegando em Orlando, em Janeiro de 1996, para fazer meu estágio na Disney que descobri que dividiria um apartamento de três quartos com 5 pessoas. Seríamos 6!!! Um banheiro para 4!!! Foi a época mais suja da minha vida! Era eu e outro holandês, o François num quarto. Dois franceses no outro e no terceiro morava um norueguês com outro holandês. Imaginem o calor da Flórida e os franceses sem querer ligar o ar condicionado. O François nunca trocou o lençol da cama dele e tinha até o corpo dele marcado com manchas de seborréia. Já que ninguém limpava o apartamento eu é que nao ia ser a empregada latinoamericana dos europeus. Entrei na dança. Tomava banho de chinelo e nao cozinhava em casa. O chao do banheiro vivia molhado e nasceram até cogumelos na borda da pia! Nenhum deles limpava a pia depois de barbear-se! Era literalmente um cortiço. Adorava quando vinham visitas para Orlando e eu ia para o hotel com elas!

Entre 1996 e 2000 eu tive um tempo. Morei em um quarto sozinho por mais 2 anos na Suíça (pagava extra para ter paz e limpeza), voltei a morar na casa de meus pais no Brasil (mordomia). Teve apenas dois episódios rápidos. O primeiro foi na Guatemala, quando tentei entrar para o mundo da hotelaria corporativa trabalhando para o Intercontinental Guatemala City. Durou um mês. Neste mês morei com um mexicano num apartamento gigantesco na zona viva da cidade. Tinha uma visa linda do vulcao ativo e quando chegava em casa do trabalho havia cinzas vulcânicas por toda parte. O segundo episódio foi nas Ilhas Maldivas, quando achei que conseguiria ser Robinson Crusoé. Dividi um quarto sujo, escuro e mal ventilado com um mergulhador françês que dava aulas de scuba diving no hotel. Durou 15 dias e logo estava na mordomia curitibana outra vez.

Em Abril de 2000 voltei para Londres. Desta vez dividi um apartamento com duas mulheres. Foi bom pois eram amigas da escola suíça e nos dávamos muito bem. Uma era sueca e a outra suíça. O apto era bacana, pequeno mas bem localizado. Claro que eu implicava com escovas de cabelo largadas pela sala, sutiens pendurados no chuveiro e as pantufas mas foi muito bom. Eu era muito chato e passava a metade do tempo limpando a casa. A febre da limpeza havia me contagiado entao. Acho que foi o trauma de Orlando. Elas deixavam um livro na sala e no dia seguinte o livro estava de volta na prateleira do quarto delas. O esmalte ficava na cozinha? Milarge! No dia seguinte ele estava de volta no seu devido lugar no banheiro!

De Londres fui tentar morar em Berlim. Durou apenas os dois meses do verao. Os primeiros 15 dias passei num albergue da juventude. Meus roommates mudavam todos os dias e eu era o louco que morava ali. Imaginem a decepçao da família de ver o filho deles largar a vida de gerente de hotel em Londres para ser estudante de alemao em Berlim. Chegou o inverno e eu fugi para Barcelona.

Em Barcelona eu morei quase 3 anos em diversos apartamentos. Vivi com 2 loucos catalaes que nao trabalhavam. Eram um casal (ela na verdade era de Buenos Aires) que vivia na época dos Beatles. Nao usavam celular pois dava câncer. Cozinhavam tudo no vapor. Eu passava a maior parte do tempo no meu quarto, que nao tinha janelas ou ficava na rua. Depois fui morar com uma espanhola e com meu irmao. Ainda morei numa casa com um brasileiro, um sueco e um espanhol maconheiro de Cádiz. Ele tinha um sotaque tao forte que ninguém entendia o que ele falava. Morei também emprestado na casa de vários amigos nas épocas de entre-safra, quando eu estava em trânsito entre Barcelona e qualquer outro lugar.

Entao vim para a mordomia de Dubai. Quarto só para mim. Aluguel pago. Nada de conta de luz, água, gás, etc... Só que caí num apartamento novinho em folha com um indiano de Cingapura e um maníaco de Bratislava, Eslováquia. Seis meses depois vim para o White Building, onde estou até hoje. Morava antes com um australiano e um espanhol e hoje moro com um brasileiro e um romeno. Há também um indiano de Bombaim, namorado do brasileiro, que mora aqui emprestado!

Quem será o próximo? Qual será a próxima cidade?