Faz tanto tempo que eu nao escrevo que parece que precisaria escrever um romance inteiro para contar todas as experiências que tive desde que cheguei de férias no começo do mês.
Primeiro de tudo fui para o Sudao num destes vôos bate e volta. Acontece que para mim o fato de estar voando sobre o maior país da África, pousando no meio de uma cidade exótica a beira do rio Nilo ainda me excita muito. Para deixar a coisa ainda mais emocionante o aeroporto fechou enquanto nos aproximávamos para aterrisar devido a uma tempestade de areia. Vocês nao sabem o que é estar dentro de um aviao que está dentro de uma tempestade de areia. A cabine escureceu. Nao dava nem para ver a asa do aviao e fazia um barulho, um vuuuum macabro. Chacoalhamos 40 minutos. Crianças vomitaram. Os passageiros suavam frio e eu só pedia para nao ser aquele o dia que eu iria parar numa tenda da Cruz Vermelha no meio do deserto núbio. Quando o aviao finalmente pousou os passageiros começaram a cantar, bater palmas e se cumprimentar, estilo: sobrevivemos!
Em seguida foi Seúl na Coréia do Sul. Um vôo demorado, cruzando todo o Himalaia, vendo os picos mais altos do mundo pertinho do aviao. Pena que a cidade foi uma decepçao. Quem sabe o problema foram minhas altíssimas expectativas. Seúl é o que Sao Paulo seria caso fosse uma cidade um pouco mais organisada. Até os fios de luz, o metrô e as pessoas na rua se parecem paulistas. Eu queria algo mais parecido com a Mongólia ou o Japao, sei lá! E claro que nestes vôos para o Extremo Oriente eu sempre acordo às 4 horas da manha, hora local e nao prego o olho. Vejo todos os canais em língua local, faço hora até os cafés abrirem e o metrô começar a funcionar e saio explorar a cidade. Fui o primeiro cliente do dia na agência central dos correios!!! Ah, a Condolezza Arroz estava na cidade e eu no meio do cerco policial entorno da embaixada americana. Quase apareço de lambuja na CNN!!!
Voltando da Coréia fui para Jidá (em inglês Jeddah, perto de Meca na Arábia Saudita). Fui fazendo um vôo extra para peregrinos muçulmanos. Aviao: Boeing 777 com 400 assentos em classe econômica! E todos os 400 assentos ocupados. E todos os 400 passageiros fazendo fila na porta dos banheiros para trocar de roupa e vestirem os trapos brancos que todo muçulmano deve usar para entrar nas terras sagradas. Nao preciso nem dizer que saímos MUITO atrasados, até conseguir dizer que todos tinham que se sentar, explicar com línguagem de gestos para que servia o cinto de segurança e conseguir levar a última das velhinas de 100 anos do banheiro para o assento 59K e retirar do compartimento de cargo as malas dos 3 passageiros que ser perderam no Duty Free, decolamos. E eu me sentia dentro das páginas da National Geographic. Tem aquelas velhinas com as caras cheias de cicatrizes, velhinhos sem nenhum dente, turbantes, crianças por todos os lados (correndo, brincando de esconde-esconde...). Os homens se enrolam numas toalhas brancas que ficam caindo todo o tempo entao é só pelo pra lá, pelo pra cá. Tem também aquelas mulheres cobertas e de focinheira. Nossa, dava para tirar umas fotos bacanas!!! Na volta, todo o povo traz uns 5 litros de água sagrada (Zam Zam) e enchem os compartimentos de bagagem de souvenires de Meca. Deve ter até aquela camiseta do Hard Rock Mecca!!!
Passando do Oriente Médio para a Europa, tive finalmente um vôo para Paris! Até começei a ler um livro em françês antes do vôo para praticar a língua e poder falar com os passageiros. Bem, cadê os franceses??? Acho que voam todos de Air France. No vôo da Emirates tinha gente de todos os países da África e Ásia que um dia foram colônias francesas: Maurício, Comores, Pondicherry, Vietnam, Laos, Seychelles, etc. Claro que todos com 5 filhos, 16 malas e comida vegetariana. Um sufoco! Para melhorar ainda mais nossa vida o aviao era um dos mais velhos da frota, ou seja, os monitores individuais de 16 passageiros nao funcionam há meses, um forno estava estragado e duas pias entupidas. Lindo!!! Chegando em Paris eu demorei 2 horas para ir do hotel até Châtelet e 2 horas e meia para voltar! Résumé: Paris non plus!
A única coisa interessante da experiência parisiense foi que levei o meu iPod e fiz uma caminhada pelo rio Sena, escutando músicas temáticas enquanto uma tormenta se montava nos céus de Paris. Sem eu ter escolhido nem nada o Frank Sinatra tocou ‘I love Paris’ e pasemem! quando eu estava chegando perto da Pont des Arts começa a tocar Pont des Arts do Saint Germain!!! Quase tive um orgasmo! Isso porque estava tao cansado que parecia que eu estava dentro de um filme. Quando finalmente a tormenta caiu eu me refugiei no Louvre. Passei uma hora vendo os livros de fotos da Virgin Megastore, comi uma baguette Thon Crudités com um Café au Lait e estava tao exausto que voltei para o fim do mundo, ou seja, hotel.
Agora estou em Dubai por uma semana. Aqui está um calor de fermentar miolos. Finalmente consegui me livrar da invasao de baratas que assolava todos os armários da cozinha! Hoje fiz frango assado pela primeira vez e ficou bem bom! Casquinha crocante. No outro dia fiz frango à milanesa. Ficou bom só que todas as roupas que estavam secando na lavanderia ficaram cheirando milanesa, inclusive a sala, os travesseiros, lençóis, etc... Milanesa, nunca mais.
Vou passar a semana tomando sol na piscina, fazendo jogging (preciso perder 3 kilos até Quinta que vem) e me preparando para o próximo vôo, que será para Malta. Para quem nao sabe, Malta é uma ilha microscópica no meio do Mediterrâneo, entre a Tunísia e a Itália. Por que a Emirates voa para lá? Nao faço a menor idéia mas só sei que a estada é de 3 dias em hotel 5 estrelas, com dinheiro local no bolso, praia, verao e vao dois amigos meus no vôo. Résumé: férias pagas!!!
Moral da história: vai ser muito difícil me acostumar com o mundo real no dia que eu for embora daqui!