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Tuesday, April 26, 2005

Uma viagem em dois capítulos

Segundo capítulo - Tóquio

Nao há como chegar em Tóquio sem se surpreender. O aviao pousa em meio a uma floresta, nada de arranha céus ou quaisquer outros sinais de megalópole. A única coisa que se vê da janela do aviao é mato e o Monte Fuji em cima das nuvens. Entao a porta do aviao abre e a aventura começa: sinais em Kanji (ideogramas), vozes, musiquinhas estranhas para avisar que tem escada rolante, outra para avisar que chegou o trem, outra para avisar que é a sua vez de passar a imigraçao. E você no maior do jet lag vai indo, sem saber bem se está sonhando ou acordado. Entao chega a hora de comprar a passagem para o centro da cidade e escolher o trem. Bem, daí é hora de acordar pois é um monte de plataforma, trem para um lado, expresso para outro, pinga-pinga aqui, trem bala acolá...

Reservei um hotel em Shinjuku, bairro moderno e de vida noturna. Sem saber que o quarto duplo era quase um quarto de bonecas, super pequeno. Tive que rir quando abri a porta e pensei se entraria eu ou a mala. Isso que já havia as malas da Carla (amiga portuguesa que foi se encontrar comigo) dentro do quarto. Era menor do que o bunker onde dormimos no aviao! Mas pelo menos deu para dar risada e era limpinho. O quarto mais barato da cidade! 80 dólares!!! Já a tal história de vida noturna se traduz para motéis, bares de prostitutas, sex shops e tudo o que de mais sórdido existe na mente japonesa. Nem preciso dizer que a Carla quase foi ‘abusada’ como ela mesmo diz, pois se perdeu e foi pedir ajuda bem para o Jack Estripador japonês!!!

Já que estou falando do hotel e da Carla, devo contar do acidente dentro do banheiro do quarto. Como toda privada japonesa, a nossa era cheia de botoezinhos e esguichos. Eu estava quase dormindo, vendo um canal TV Shop com o povo vendendo máquinas de cozinhar arroz quando escutei o grito do fundo da garganta da portuguesa de dentro do banheiro. Ela apertou o botao errado do autoclismo (português para descarga) e o esguicho saiu de dentro da privada direto em direçao ao seu rabo (palavras dela) com um jato à pressao quente!

Tóquio é uma cidade inacreditável. Tem quase a populaçao de Sao Paulo só que nao existe assalto, barulhera, violência, etc. Tudo funciona super eficientemente. Os japoneses aperfeicoaram o que os suíços inventaram. Mas também pudera pois com tanta gente em um espaço tao pequeno tudo tem que ser organisado. Só que somente os japoneses sabem das regras nao escritas de conduta na cidade. Eu, como todo o gaijin, sempre fazendo as gafes. Assoando o nariz, tropeçando nas escadas, derrubando coisas no chao, andando do lado errado da calçada, etc etc etc... Ainda bem que os japas tem paciência com a gente. Devem pensar: coitadinho dele, nao é japonês.

Fui ao mercado de peixe (atraçao turística). Ali se vende 2 milhoes de dólares diários de atum, ostras, camaores, etc. É realmente impressionante pois há uma quantidade gigantesca de frutos do mar que nunca vi na vida. E nunca vou saber o nome pois como conversar com o pescador japonês sem falar japonês? O mais impressionante é que dentro do maior mercado de peixes do mundo nao cheira a peixe!!! Lembro do cheiro horrível do mercado de peixes de Guaratuba! Em Tóquio nao é nada daquele jeito. Minha vó que iria gostar. E eu resolvi tirar foto de uma senhora abrindo uma concha estranha. Ela começou a se comunicar comigo e eu fazendo o gesto que todo o gaijin faz: ficava sorrindo e colocando o corpo para a frente e para a trás, como se estivesse cumprimentando um lutador de sumô. Ela cortou metade da coisa gosmenta que estava dentro da concha e me deu para comer! Tive que colocar na boca e engolir em seco. Foi o sinal para sair imediatamente do tal mercado e tomar duas latas de Coca Cola para ver se saia o gosto de areia com pixe que ficou na minha garganta.

O melhor da viagem foi a comida. Geralmente achamos que comida japonesa é apenas sushi, sashimi e tempura. Bem, ao tentar comer em Tóquio descobrimos que é mais fácil encontrar a tal agulha no palheiro do que escolher onde comer. E é claro que sempre escolhíamos os lugares complicados, onde o cardápio era apenas, única e exclusivamente em japonês e todos falavam única e exclusivamente japonês. Entao ficávamos apontando para as comidas, dizendo hai (sim), hai hai (sim sim), e as poucas coisas mais que sabíamos e quando vinha a comida era sempre algo exatamente diferente do que tínhamos pedido. Eu sempre falava para a Carla, ruim nao vai ser! E realmente, ruim nao era mas muitas vezes nao tínhamos noçao de como comer pois vinha potinho, água quente, chá nao sei do que e os garçons a dar risadas dos dois gaijins tentando comer, ou fingir que comíamos. E olha que eu e a Carla nao brigamos nenhuma vez!!! Nem mesmo quando ela pediu uma sobremesa de feijao com sorvete de chá verde.

Um dos segredos de nao termos brigado foi que ela queria ver o Monte Fuji. Eu, como já havia estado no Japao e visto o Monte Fuji, fiquei em Tóquio neste dia fazendo o meu rolê pelas galerias de arte, coisa que ela nao era muito afim! Entao neste dia caminhei literalmente até sair sangue do pé! Fui à zona de Omotesando, que é a Cerqueira César de Tóquio e tentei misturar-me com os chiques e ricos da cidade. Só que eu suava em bicas e minha camisa elegante ficou empapada de suor. Eles, os japs, nao suam acho eu pois ficavam me olhando como se eu tivesse descido de uma nave espacial. Na verdade a impressao que se tem em Tóquio é que pousamos em outro planeta. Bem, a maioria das galerias onde fui nao eram grande coisa. Acho que todos os grandes artistas de vanguarda japoneses estao em Londres e Nova York. Mas no final do dia cheguei a Roppongi Hills e ali sim, vi coisas que meus olhos nunca viram. Fotos, estátuas, pinturas, lojas diferentes, japonesas vestidas de ET e tudo mais.

Na volta para o hotel tive a experiência de ser expremido dentro do vagao de metrô da Yamanote Line e de tentar achar a saída certa da estaçao de trem mais movimentada do mundo. Três milhoes de pessoas passam por ali na hora do rush. Todos sabem aonde ir, menos eu, que fiquei 34 minutos entre uma maré para o saída norte e outra para a sudeste. Resolvi pegar qualquer saída e tive que dar a volta por trás dos trilhos de trem. Me senti o mais burro do mundo mas pelo menos tive a experiência antropológica de ver mendigos japoneses em suas caixas de papelao bem limpinhas e ordenadas.

Adorei Tóquio. E adorei visitar a cidade com trilha sonora brasileira. A grande moda no Japao é música brasileira nos cafés, restaurantes, elevadores, salas de espera... e a cidade está mais moderna, mais descolada do que há 10 anos, quando fui pela primeira vez. Somente a título de ilustraçao: há 10 anos a economia japonesa estava em franca expansao. Havia dinheiro caindo do céu. Todos se vestiam com roupas de marca mas sem estilo. Mais ou menos como a finada Roseanne Collor, que deus a tenha (para mim prefiro acreditar que aquele povo morreu e foi ressuscitar na casa da Dinda). Agora o povo anda modernoso, cabelos despenteados, roupas descombinadas mas estilosas. Quem sabe seja o Japao aprendendo a ser pobre (desculpa, menos rico).

8 Comments:

  • Ninguém mais deixa comments no blog!!! Vicente

    By Anonymous Anonymous, at 27 April, 2005  

  • esta sentindo falta de alguém?

    By Anonymous Anonymous, at 27 April, 2005  

  • você está muito cheio de vontades, pois temos que ler o teu blog e ainda deixar comentários...rs
    Beijos, Cá

    By Anonymous Anonymous, at 27 April, 2005  

  • para de reclamar, criatura... deixei um bem grande la embaixo, quando voce me deu a honra de escrever sobre 'moi'. Recebi seu cartao. Thanx!!! Lindo, combina com os outros meio verdolengos tambem.....minha instalacao na parede esta assim meio deconstrutivista (dado que aquele cartao feito de colagem sobre o brasil despenca toda hora), mas sua contribuicao esta deixando a parede 'mais linda'. Dia 05/04 tem feriado aqui.... onde voce vai estar? quer fazer alguma coisa de 4 dias aqui pela Europa? Eu posso ir me encontrar contigo....
    Ale

    By Anonymous Anonymous, at 27 April, 2005  

  • Vicente, sempre leio teu blog kra, vc é uma comédia, as vezes no trabalho me pego numa situação ridícula: rindo prá tela do PC, lendo tuas estórias. Qdo vem à Ctba? Gostaria muito de conhecê-lo.

    By Anonymous Anonymous, at 28 April, 2005  

  • http://www.magnumphotos.com/c/htm/FramerT_MAG.aspx?V=CDocT&E=2TYRYD7K05FD&DT=ALB

    mais sobre Tóquio, na Magnun...

    beijo,
    Tati

    By Anonymous Anonymous, at 28 April, 2005  

  • nao se deprima com shinjyuku sta. eu ja estive 6 vezes e ate trabalhei la, sei ler as indicacoes mas continuo me perdendo cada vez que vou. Viu o leilao de atuns as 6 no mercado tsukiji? espetaculo impressionante. abracos

    by kenzo

    By Anonymous Anonymous, at 29 April, 2005  

  • Vicente!
    Tudo bem! vc nao me conhece, mas acabei de zarpar em Dubai, estou trabalhando em um jornal aqui, estava morando em Tokyo mas sou brasileiro.Precisava de umas dicas suas. Se puder me escrever agradeceria muito
    oksaki@uol.com.br

    By Anonymous Anonymous, at 30 April, 2005  

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